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CONSIDERAÇÕES FINAIS A MICROTERRITORIALIDADE

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UMA RELAÇÃO ENTRE OBJETIVIDADE DO ESPAÇO, CULTURA E AÇÃO INTUITIVA DO SUJEITO

CONSIDERAÇÕES FINAIS A MICROTERRITORIALIDADE

nos faz questionar a originalidade de ação a que falávamos anterior-mente. Quando estão abarcadas por estratégias de mercado que pro-duzem lugares específicos e conformam expressões a partir da deter-minação de uma aura estética em que todos compartilham, temos, então, uma reformulação da ideia de “prático-inerte” para os contex-tos das convivências “alternativas” além dos paradigmas da conformi-dade, organização e regulação rígida do espaço social. De acordo com alguns pensadores, como Maffesoli (2002), este caos estético que se multiplica em formas diversas é o que prevalece no que concebemos de espaço social; para outros, como Eremberg (apud PRATA, 2004), isto evidencia um controle mais minucioso que comanda diretamen-te a “psique” e a subjetividade individual;

4) Na escala da regionalidade, as microterritorialidades se compõem na ideia de território como produto da expansão das redes técnico-cientí-ficas. Este território está difuso em lugares que representam fragmen-tos das diferenças espaciais da funcionalidade e da divisão trabalho e da reprodução do capital. A tecnificação faz parte de um processo mais amplo de expansão de formas materiais, processos técnicos, normas e qualidades morais; assim como de conhecimentos que compõem as representações do mundo, conhecida como modernização. Em pro-cesso, a modernização é incompleta e cautelosa em atingir a todo ecú-meno. Esta qualidade de incompletude gera diferenciadas condições regionais de composição do território moderno na analise de escalas diversas (quanto analisamos uma região de um país ou do mundo, ou simplesmente quando observamos as incompletudes de modernização no tecido urbano) e isto permite maiores determinações ou maiores afrouxamentos da composição do “prático-inerte”, gerando possibi-lidades diferenciadas dos sujeitos produzirem ações criativas parado-xais às condições determinantes do espaço social. Duas cidades pode-rão ter expressões de microterritorialidades mais intensas ou menos intensas conforme a legitimidade das convenções e normativas sociais composta no acúmulo de regramento que construiu as condições de Pelo discutido aqui, verifica-se a importância da ideia de

“microterrito-rialidade” para entender melhor a relação do humano com o espaço na con-temporaneidade. Metodologicamente, os estudos sobre microterritorialidades permeiam esferas de ideias que, a princípio, apresentam-se como dicotômi-cas, mas que, de forma dialética, se integram em diferentes níveis de inten-sidades. Estas esferas de pensamento são:

1) A escala do sujeito e seu cotidiano: tanto condicionado ao “prático-i-nerte” do fazer objetivo do espaço, do trabalho e das normas sociais;

assim motivado e agindo por percepções difusas que ativam proces-sos intuitivos paradoxais aos determinantes contidos em si e sua rela-ção com este “prático-inerte”;

2) Na escala das intersubjetividades: as ações geram interações que ligam intuições e objetivam práticas comuns paradoxais as condições deter-minantes do espaço social, verificado como um “prático-inerte”. Tais práticas compõem sistemas de significados sobre os “si mesmo”, “so-bre o nós” e so“so-bre os “outros” (objetos, sujeitos e grupos), decompõem e recompõem representações sociais e cristalizam momentaneamen-te valores e formas estéticas. Assim sendo, compõem certas culturas, de intensidades variadas quanto a cristalização dos atos e significados compartilhados;

3) Ainda na escala das intersubjetividades: as identificações são balizadas pela criatividade dos sujeitos em interação no sentido das autenticida-des culturais construídas por eles mesmos e as formas reproduzidas, como verticalidades instauradas no lugar, por estratégias de diversifi-cação de mercado de consumo, principalmente quando pautam a sen-sibilidade, o erotismo, o desejo, o divertimento, aguçando a intuição e conformando-a a um “corredor” possível de expressão. Este sentido transversaliza escalas geográficas compostas na microterritorialidade.

A própria intuição poderá já estar transversalizada por impulsos sen-sitivos produzidos como imaginações e aguçados pelas mídias e infor-mações do meio informacional avançado da atualidade. Esta afirmação

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seu espaço. O regramento da sexualidade, por exemplo, apresenta este caráter de regionalidade e, assim, as microterritorialidades de certas se-xualidades desviantes poderão se configurar muito diferenciadamen-te em relação às possibilidades de existência e a própria qualidade de suas existências;

5) A condição de regionalidade e o trabalho do mercado cultural flexí-vel colocam as microterritorialidades em contato direto com as estra-tégias de poder hegemônicos que produzem certas condições mestras de organização do espaço global. Uma visão aguçada sobre o

marke-ting, a propaganda, as imaginações midiáticas e as esferas diferencia-das de produção e circulação cultural são importantes para entender o caráter de mobilização identitária e de microterritorialização de cer-tos agregados sociais no espaço urbano.

Estas cinco esferas de pensamento apresentam-se como pistas metodoló-gicas para se pensar fenômenos de agregações sociais e a ideia de microter-ritorialidades. Esperamos que mais pesquisadores se interessem pelo tema para ampliarmos o debate.

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