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A CONCEPÇÃO DE EUGENIO TURRI: DE UMA ABORDAGEM CULTURAL AO HIBRIDISMO PARA ESTUDAR A CULTURA E A IDENTIDADE

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REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE TERRITÓRIO E SUAS RELAÇÕES COM OS ESTUDOS DE CULTURA

A CONCEPÇÃO DE EUGENIO TURRI: DE UMA ABORDAGEM CULTURAL AO HIBRIDISMO PARA ESTUDAR A CULTURA E A IDENTIDADE

Primeiramente cabe esclarecer que escolhemos duas obras que

jul-gamos fundamentais na produção do conhecimento e do pensamento de Eugenio Turri, por conterem sínteses teórico-metodológicas muito bem ela-boradas e pertinentes aos estudos de geografia cultural. A primeira, de 1974, escolhemos em virtude da concepção defendida, ou seja, da argumentação em favor de uma geografia humanística elaborada dando centralidade ao conceito de paisagem; a segunda obra, de 2002, selecionamos justamente porque revela uma mudança substantiva na concepção do referido autor, agora híbrida e centrada no conceito de território. Parece-nos tratar-se de uma boa problematização porque mostra um movimento de construção das ideias distinto do que verificamos no Brasil em relação à geografia humanís-tica e cultural: esta foi fortalecida nos últimos 15 anos, ao contrário do que verificamos na abordagem e concepção reconstruída por Eugenio Turri. Por isso o selecionamos diante de tantos(as) geógrafos(as) do exterior e do Brasil que poderiam ter sido utilizados nesta problematização. Também optamos

por estas duas obras do Eugenio Turri porque nos identificamos com algu-mas de suas argumentações presentes na obra de 2002, pois auxilia a com-preender a relação espaço-tempo, a relação território-paisagem, os ritmos, a relação sociedade-natureza, e as mudanças e permanências econômicas, políticas e culturais.

Para Turri (1974), a paisagem corresponde aos cenários visíveis que geram imagens e representações vinculadas à subjetividade do observador e decodificadas em consonância com a percepção das pessoas e com os va-lores de cada sociedade (Quadro n. 1). É impressa na natureza por meio das motivações culturais religiosas, estéticas, econômicas e políticas, intima-mente vinculadas à vida cotidiana e aos signos instituídos historicaintima-mente.

A cultura é entendida de maneira ampla, como síntese da relação dialética sociedade-ambiente terrestre, gerando paisagens e signos. Estes últimos es-tão presentes tanto nas edificações e no enraizamento como na mobilidade (nas redes).

Principais referências Conceito de território Conceito de paisagem Abordagem

Eugenio Turri -Merleau-Ponty -L. Goldmann -P. Claval -Lévi-Strauss -U. Eco

– organizado social e historicamente ge-rando novos signos;

– explicado a partir da paisagem.

-resulta de uma trama de signos impressos pelo homem com base em motivações e ope-rações culturais;

-contém formas cristalizadas resultantes de eventos, signos e memórias;

-resultado da relação homem-natureza, dos eventos cotidianos percebidos e observados;

-contém identidade e unicidade = região;

-conjunto de formas e imagens interpretáveis.

-humanística e cultu-ral: centrada no ho-mem, nos signos e na percepção;

-histórico-ecológica;

-diacrônica e sincrô-nica.

Quadro n. 1 – Síntese da obra: TURRI, Eugenio. Antropologia del paesaggio. Milano: Cumunità, 1974. Elaboração: Marcos Saquet, 2011.

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Para Turri (2002), os processos materiais também são imateriais. As mudanças sociais têm ritmos diversos e resultam do modo de viver e produ-zir, tanto econômica como política e culturalmente. O território, considera-do produto histórico de mudanças e permanências ocorridas no ambiente, significa apropriação social do ambiente. Este é construído com múltiplas variáveis e relações recíprocas.

O homem age no espaço (natural e social) de seu habitar, produzir, viver, objetiva e subjetivamente, gerando o território, de acordo com as con-dições historicamente definidas. A paisagem constitui-se no nível visível e percebido deste processo (Quadro n.2); o território, no produto de ações históricas que se concretizam em momentos distintos e sobrepostos, geran-do diferentes paisagens.

Principais referências Conceito de território Conceito de paisagem Abordagem

Eugenio Turri -M. Quaini -P. Claval -P. George -V. Vagaggini -G. Dematteis -F. Braudel

-construído historicamente,

com transformações sucessivas; os valores culturais relacionam-se com a paisagem;

-contém rupturas e permanências: cul-turais políticas, econômicas e nacul-turais;

-apropriação social e concreta do am-biente.

– vestimenta histórica, nível visível e percebi-do percebi-do território;

-é feita e refeita incessantemente com for-mas e conteúdos, a partir da construção do território.

-híbrida ou múltipla;

-geo-histórica;

-diacrônica e sincrô-nica.

Quadro n. 2 – Síntese da obra: TURRI, Eugenio. La conoscenza del territorio. Metodologia per un’analise storico-geografica. Venezia: Marsilio, 2002. Elabora-ção: Marcos Saquet, 2007 a 2011.

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Perspectiva que pode ser trabalhada com a seguinte proposição do autor, a ser definida em consonância com as características de cada projeto de pesquisa: a) território campeão: está centrado na escolha de uma pequena área para ser estudada, destacando-se as formas e relações sociais; b) terri-tório laboraterri-tório: estudam-se as características do territerri-tório e da paisagem;

pode haver a resolução de problemas teóricos em virtude de um banco de dados; há vivência no território; c) território problema: há reordenamento, a reconfiguração, superando a realidade local a partir da atuação do pesquisador em conjunto com os outros sujeitos.

Para nós, há algumas coerências na abordagem e concepção de Tur-ri (2002), que podem ser utilizadas para estudos de cultura e identidade, conforme mencionamos em Saquet (2009 e 2011). Estudar processos iden-titários e culturais não significa, em nossa avaliação, negligenciar os econô-micos, políticos e ambientais, justamente em virtude das características plu-ridimensionais da realidade que estudamos na ciência geográfica a partir dos seus conceitos e/ou categorias fundamentais: espaço geográfico, território, paisagem, região e lugar. Didaticamente, podemos trabalhar evidenciando ora fatores, elementos e processos econômicos, ora os culturais e identitá-rios, ora os políticos, ora os ambientais, em consonância com cada projeto de pesquisa e/ou extensão/cooperação, com nossos objetivos, com nossas metas, com nossas opções políticas e metodológicas.

As ênfases são muito comuns, ora privilegiando aspectos políticos e econômicos (Raffestin, 1993/1980; Bagnasco, 1977; Saquet, 2003/2001), ora econômicos e culturais (Rullani, 1997; Dematteis, 1995; Raffestin, 1984), ora culturais e políticos (Haesbaert, 1997; Gallo, 2000). Podemos verificar as ênfases sem negligenciar outros aspectos também em estudos mais pon-tuais e recentes, sejam eles estudos de geografia agrária, urbana, cultural e ambiental, tais como: Briskievicz (2012): destaca os processos culturais e identitários sem desconsiderar os econômicos da modernidade; Galvão (2009): evidencia a natureza, a identidade-patrimônio e o turismo; Eduardo

(2008): as atividades artesanais-econômicas e identitárias; em Saquet et al (2010) e Saquet, Souza e Santos (2010), enfatizamos a agroecologia e a orga-nização política dos agricultores; Flávio (2011): destaca a memória-história, a dominação política e a especulação econômica; Gaiovicz (2011): o poder político e a agroecologia; Machado (2009): evidencia a natureza-bacia hi-drográfica, a modernização da agricultura e a urbanização. Estudos pontuais que resultam das pesquisas que realizamos no âmbito do Grupo de Estudos Territoriais (Geterr, Unioeste), nos últimos 10 anos, trabalhando para tentar construir uma perspectiva de abordagem dos tempos e dos territórios, das temporalidades e das territorialidades, diretamente vinculada aos processos de planejamento, gestão e desenvolvimento local.

Poderíamos citar outras pesquisas centradas no conceito de território, feitas sem negligenciar os demais conceitos basilares da geografia, destacan-do determinadestacan-dos aspectos, elementos e processos numa abordagem pluri-dimensional e predominantemente reticular-transescalar conforme detalha-mos no decorrer deste texto, mas não tedetalha-mos espaço para tal.

Por fim, é importante, ainda, evidenciar a questão da conjugação con-ceitual. Seja qual for o tema e a problemática de estudos, acreditamos que é necessário escolher alguns conceitos que sirvam de orientação teórica para a interpretação a ser realizada. A escolha cabe, evidentemente, a cada pesquisa-dor ou grupos de estudos, de acordo com os objetivos de cada projeto, com a opção teórico-metodológica e política, com as metas, com a problemática de estudos, valorizando e retomando, evidentemente, o que já foi produzido em cada especificidade da geografia e tentando avançar criativa e qualitati-vamente. Podemos optar, por exemplo, pela relação espaço-tempo ou pela espaço-tempo-território (nosso caso) ou pela relação território-paisagem ou região-lugar e assim por diante, porém, sempre valorizando os sujeitos, pois são eles que efetivam as redes, os fluxos, as relações trans-multiescalares, as identidades, a degradação, os ritmos de acumulação, enfim, os elementos e processos de nossa vida cotidiana.

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CONTINUANDO A PROBLEMATIZAÇÃO

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