SUBORDINAR – COTIDIANO TÁTICO EM SALVADOR DA BAHIA
CONCLUSÃO Da perspectiva dos estigmatizados e do cotidiano deles torna-se visível que
a imaginação popular na favela tem a capacidade de criar e manter um es-paço utópico. Este eses-paço utópico resiste ao controle total e á vigilância dos opressores. Comisso está executa-se, pelo menos em parte, uma justiça ur-bana. Nas práticas cotidianas dos fracos revela-se Dionísio em vez de revolta coletiva. Compreender o cotidiano como festa, arrancar algo dos fortes com atitudes espertas (faire de la perruque) e jogadas táticas são caracteristicas do cotidiano. Quando se compara numa observação sinóptica o dia-a-dia dos fortes com o dos fracos destaca-se que paradoxalmente os fortes tornam-se reféns cada vez mais de uma geografia de medo (p.e. auto-exclusão), os fra-cos, ao contrário, nas suas áreas urbanas marginalizadas, produzem mil prá-ticas de uma geografia das possiblidades. Estes resultados nem deveriam
ser-vir para uma legitimação das estruturas dominadas, nem para o descaso para comos oprimidos, e, respectivamente uma romantização do cotidiano na fa-vela. Muito mais tournou-se evidente, que os sujeitos subalternos da ordem da social originária da desigualdade colonial histórica, possuem uma margem pequena de agir e por isso necessitam utilizar todas as possiblidades existen-tes. Isso alivia a “subcidadania” (SOUZA 2003) e denuncia a responsabili-dade moral da elite.
Apesar da pouca revolta nas favelas, os “homens cordiais” (HOLLANDA 1995) expressam sua resistência individual nas práticas cotidianas, as “armas dos fracos” (SCOTT 1985) e as práticas de Dionísio. Demonstra-se, assim, que estas formas de lidar com a desigualdade social são, por fim, compreen-síveis, porém estabilizam a estrutura dominada. A ordem social que se
re-171
produz com isso, de cima e debaixo, a desigualdade social – SOUZA (2009) denota isso como uma “naturalização” – que poderia ser comparada a uma situação de empate. A citação final monstra e traça uma imagem relativa-mente pessimista da sociedade brasileira.
Vai ser sempre a mesma coisa: nós (a gente da favela) não sobrevivemos sem eles e eles não
so-brevivem sem a gente. Por que? Porque é a classe dos pobres, que produz os empregados: a babá, o zelador, o porteiro, entendeu? Só precisa se conscientizar que eles não podem sobreviver sem nós. Assim essa união tem que existir sempre, se-parados nenhum de nós pode viver (DEFFNER 2008, p. 40).
BAUMAN, Z. (1990): Thinking Sociologically. Oxford.
BARTH, F. (Hrsg.) (1969): Ethnic groups and boundaries. The social or-ganization of culture difference. Oslo.
BELINA, B. (2008): ‘’We may be in the slum, but the slum is not in us!’’
– Zur Kritik kulturalistischer Argumentationen am Beispiel der Underclas-s-Debatte. In: Erdkunde 62, 1: 15-26.
CONCEICÃO, F. (1986): Cala a boca Calabar. A luta politica dos fave-lados. Petrópolis.
DAVIS, A. Y. (1997): Race and Criminalization – Black Americans and the Punishment Industry. In: LUBIANO, W. (Hrsg.): The House that Race built. New York: 264-279.
DE CERTEAU, M. (1982): Micro-techniques and Panoptic Discourse:
A Quid pro Quo. In: Humanities in Society 5: 257-266.
DE CERTEAU, M. (1984): The practice of everyday life. Berkeley, Los Angeles.
DE CERTEAU, M. (1988): Kunst des Handelns. Berlin.
DE CERTEAU, M. (2007) : A Invenção do Cotidiano: 1. Artes de Fa-zer”. Rio de Janeiro.
DEFFNER, V. (2006): Lebenswelt eines innerstädtischen Marginalviertels in Salvador da Bahia (Brasilien). Umgang mit sozialer und räumlicher Exklusion aus Sicht der armen Bevölkerungsgruppen. In: Geographica Helvetica 61, 1: 21-31.
DEFFNER, V. (2008): Stimmen aus der Favela. Naturalisierung sozialer Unglei-chheit ›von unten‹ in Brasiliens Städten. In: ROTHFUSS, E. (Hrsg.): Entwicklungs-kontraste in den Americas. Passauer Kontaktstudium Erdkunde 9. Passau: 27-49.
DEFFNER, V. (2010): Habitus der Scham – die soziale Grammatik ungleicher Raumproduktion. Eine sozialgeographische Untersuchung der Alltagswelt Favela in Salvador da Bahia (Brasilien). Passauer Schriften zur Geographie 26. Passau.
FISKE, J. (1989): Understanding popular culture. Boston.
FOUCAULT, M. (1976): Überwachen und Strafen – Die Geburt des Ge-fängnisses. Frankfurt a. M.
FREIRE, P. (1973): Pädagogik der Unterdrückten. Bildung als Praxis der Freiheit. Hamburg.
FREUD, S. (1994): Das Unbehagen in der Kultur und andere kulturtheo-retische Schriften. Frankfurt a. M.
GIUDICE, D. S. (1999): Impactos ambientais em área de ocupação es-pontânea – o exemplo do Calabar – Salvador – Bahia. Salvador da Bahia (Tese de mestrado; UFBA)
GORDILHO-SOUZA, A. (2008): Limites do habitar. Segregação e ex-clusão na configuração urbana contemporânea de Salvador e perspectivas no final do século XX. 2ª edição revista e ampliada. Salvador da Bahia.
GRAMSCI, A. (1986): Zu Politik, Geschichte und Kultur – Ausgewähl-te SchrifAusgewähl-ten. Frankfurt.
GUIMARÃES, A. S. A. (1998): Preconceito e discriminação. Salvador da Bahia.
HOLLANDA, S. Buarque de (1995 [1936]): Die Wurzeln Brasiliens.
Frankfurt.
HONNETH, A. (1992): Kampf um Anerkennung. Zur moralischen Grammatik sozialer Konflikte. Frankfurt.
REFERÊNCIAS
172
KORFF, R.; ROTHFUß, E. (2009): Urban Revolution as Catastrophe or Solu-tion? Governance of Megacities in the Gobal South. In: DIE ERDE 140, 4: 355-370.
KUEHN, T. (2006): Alltägliche Lebensführung und soziale Ungleichheit – eine explorative Studie in Salvador (Bahia). In: KUEHN, T.; J. SOUZA (Hrsg.): Das moderne Brasilien. Gesellschaft, Politik und Kultur in der Pe-ripherie des Westens. Wiesbaden: 129-144.
LACAN, J. (1986): Das Spiegelstadium als Bildner der Ichfunktion, wie sie uns in der psychoanalytischen Erfahrung erscheint. In: LACAN, J. (Hrsg.):
Schriften I. Weinheim: 61-70.
LEFEBVRE (1968): Le droit à la ville. Paris.
LEFEBVRE, H. (1974): Kritik des Alltagslebens. Band 1-3. München.
LEWIS, O. (1969): The Culture of Poverty. In: MOYNIHAN, D. P. (Hrsg.):
On understanding poverty: perspectives from the social sciences. New York: 187-199.
MAFFESOLI, M. (1986): Der Schatten des Dionysos. Frankfurt a. M.
MAFFESOLI, M. (1989): The Sociology of Everyday Life (Epistemologi-cal Elements). In: The Journal of the International Sociologi(Epistemologi-cal Association/
Association Internationale de Sociologie 37, 1: 2-16.
NIETZSCHE, F. (1988): Zur Genealogie der Moral – Eine Streitschrift. Stuttgart.
NUNES, D. (2000): Salvador: O arquiteto e a cidade informal. Salva-dor da Bahia.
PERLMAN, J. E. (2005): The Chronic Poor in Rio de Janeiro: What has Changed in 30 Years? In: Managing urban futures: 165-186.
POSTER, M. (1992): Michel de Certeau and the History of Consume-rism. In: Diacritics 22: 94-107.
ROTHFUSS, E. (2012): Exklusion im Zentrum. Die brasilianische Fave-la zwischen Stigmatisierung und Widerständigkeit. Bielefeld.
SANTOS, M. (2004): O espaço dividido. Os dois circuitos da economia urbana dos páisessubdesenvolvidos. São Paulo.
SCOTT, J. C. (1990): Domination and the Arts of Resistance. Michigan.
SCOTT, J. C. (1985): Weapons of the Weak. New Haven, London.
SERPA, A. (2001): Fala, Periferia! Salvador da Bahia.
SERPA, A. (2011): Lugar e mídia. São Paulo.
SOUZA, J. (2003): A Construção Social da Subcidadania: para uma So-ciologia Política da Modernidade Periférica. Belo Horizonte, Rio de Janeiro.
SOUZA, J. (2009): The singularity of the peripheral social inequality. In:
SOUZA, J.; SINDER, V. (Hrsg.): Imagining Brazil. Lanham: 9-36.
SOUZA, M. L. DE (2008): Fobópole. O medo generalizado e a milita-rização da questão urbana. Rio de Janeiro.
TAYLOR, C. (1996): Quellen des Selbst. Die Entstehung der neuzeitli-chen Identität. Frankfurt.
TELLES, E. E. (2004): Race in another America – The significance of skin color in Brazil. New Jersey, Oxfordshire.
VASCONCELOS, P. de A. (2002): Salvador. Transfromações e Perma-nências. Salvador da Bahia.
WACQUANT, L. (2009): Punishing the Poor. The Neoliberal Govern-ment of Social Insecurity. Durham.
WINDDANCE, T. F. (1998): Racism in a Racial Democracy: The Main-tenance of White Supremacy in Brazil. Toronto.
ZALULAR, A. (2002b): Violence in Rio de Janeiro: styles of leisure, drug use and trafficking. In: United Nations/Office for Drug Control and Crime Prevention: Globalisation, drugs and criminalisation: final research report on Brazil, China, India and Mexico.