• Keine Ergebnisse gefunden

A MEDICINA TRADICIONAL E COMPLEMENTAR NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

O

s sistemas de saúde em todo o mundo enfrentam um número cada vez maior de doenças crónicas, população envelhecida e despesas crescentes com os cuidados de saúde. Pacientes e prestadores de cuidados de saúde pedem que os serviços sejam revitalizados, dando maior ênfase aos cuidados individualizados, centrados na pessoa. Isto inclui o alargamento do acesso aos produtos, práticas e praticantes da medicina tradicional e complementar, especialmente nos Cuidados de Saúde Primários (CSP).

A medicina tradicional é muitas vezes percebida como mais acessível, mais barata e mais aceitável para as populações locais e pode, por isso, ser um instrumento auxiliar da cobertura universal de saúde. Além disso, é correntemente utilizada em vastas regiões da África, Ásia e América Latina. Para milhões de pessoas que vivem nas zonas rurais dos países em desenvolvimento, as ervas medicinais, bem como os tratamentos e praticantes tradicionais são a principal, e muitas vezes a única, forma de cuidados de saúde. Nos países ricos, a medicina tradicional vai ao encontro de um outro tipo de necessidades. As pessoas procuram os produtos naturais e querem ter maior controlo sobre a sua saúde. Recorrem às medicinas complementares e alternativas para o alívio de sintomas comuns, para melhorarem a sua qualidade de vida e para se protegerem das doenças de um modo holista. Idealmente, a medicina

tradicional deveria ser uma opção, uma escolha, oferecida por um sistema de saúde integrado, eficiente e focado nas pessoas, que garantisse o equilíbrio entre serviços curativos e cuidados preventivos.

Os padrões de utilização da medicina tradicional e complementar nos cuidados de saúde primários variam em cada país e entre países, dependendo de diversos fatores, tais como cultura, importância histórica e regulamentação. Em alguns países, a medicina tradicional é um dos principais recursos dos cuidados de saúde. Tipicamente, nestes países, a disponibilidade e acessibilidade dos serviços de saúde baseados na medicina convencional são, em geral, limitadas.

A generalização do uso das medicinas tradicionais na África e em alguns países em desenvolvimento pode ser atribuída à sua disponibilidade e ao facto de serem prontamente adquiríveis. Na República Democrática Popular Lau, 80 por cento da população vive em áreas rurais constituídas por um total de 9113 aldeias, cada uma com um ou dois praticantes de saúde tradicionais. Um total de 18226 praticantes de saúde tradicionais oferecem uma considerável parte da resposta a 80 por cento das necessidades de saúde da população.

Em outros países, o recurso à medicina tradicional deve-se a influências culturais e históricas. Por exemplo, em Singapura e na República da Coreia, onde o sistema de

cuidados convencionais de saúde está bem implantado, 76 por cento e 86 por cento da população, respetivamente, ainda usam correntemente a medicina tradicional. Em alguns países, especialmente os de elevados rendimentos, onde a estrutura do sistema de saúde está geralmente bem estabelecida, a medicina tradicional e complementar é usada como terapêutica suplementar.

Embora haja razões comuns subjacentes ao uso que as pessoas fazem da medicina tradicional e complementar, existem também muitas diferenças entre países e regiões.

Em muitos países em desenvolvimento, a medicina tradicional tem um papel importante na resposta às necessidades básicas de saúde da população e tipos específicos de medicina tradicional vêm sendo usados desde longa data. Alguns estudos têm demonstrado que, em outros países, alguns indivíduos escolhem a medicina tradicional e complementar por diversas razões, incluindo a crescente procura de serviços de saúde holistas, a procura de mais informação conduzindo a um maior conhecimento das opções disponíveis, uma insatisfação crescente com os serviços de saúde existentes e um maior interesse pelo

“cuidado integral da pessoa” e pela prevenção das doenças, frequentemente associadas com a medicina tradicional e complementar. Além disso, a medicina tradicional e complementar reconhece a necessidade de focagem na qualidade de vida quando a cura não é possível. Na França, pacientes com disfunções musculoesqueléticas constituíram a larga maioria das visitas aos médicos que oferecem alternativas à medicina convencional. Um grande número de pacientes com esclerose múltipla recorre a tratamento

da medicina tradicional e complementar; a prevalência de utilização varia entre 41 por cento em Espanha, 70 por cento no Canadá e 82 por cento na Austrália.

Conscientes dos costumes e tradições das populações e comunidades, os governos deveriam considerar em que medida a medicina tradicional e complementar, incluindo o autocuidado, poderiam apoiar a prevenção das doenças ou o seu tratamento, a manutenção e a promoção da saúde nos CSP, de acordo com as escolhas e expetativas do paciente e em conformidade com indicadores de qualidade, segurança e eficácia. A escolha informada é uma das pedras de toque das boas práticas de cuidados de saúde. As decisões partilhadas promovem os cuidados centrados na pessoa.

Aspetos éticos e legais deveriam sustentar e informar os pontos-chave e as considerações sobre a escolha informada.

A educação deveria também ter um papel importante nessa escolha. Em muitos países, a escolha individual de produtos da medicina tradicional e complementar representa uma parte considerável deste setor.

Com base nas realidades específicas de cada país, dever-se-ia experimentar modelos de integração da medicina tradicional e complementar nos sistemas de saúde, especialmente nos CSP e na cobertura universal de saúde;

isto inclui decidir quais as formas de medicina tradicional e complementar a serem integradas e de que modo. Existem muitas iniciativas em curso em todo o mundo. O seu objetivo é desenvolver modelos para a melhor prestação de cuidados de saúde que sejam sustentáveis, exequíveis e com boa probabilidade de melhorarem os resultados na saúde. Dependendo das circunstâncias específicas de

cada país, os cuidados de saúde podem assumir a forma de uma disciplina única, múltiplas disciplinas, um modelo de autocuidado ou adotar uma abordagem mais integrada.

Muitas vezes, os melhores modelos são desenvolvidos em parcerias e colaborações e centrados na pessoa, baseando-se em abordagens baseando-seguras, apropriadas e com boa relação custo-benefício.

Dr Qi Zhang Unidade de Medicina Tradicional e Complementar, Departamento de Prestação e Segurança de Serviços, Organização Mundial da Saúde

T H I R T E E N

Outline

ÄHNLICHE DOKUMENTE